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  • Foto do escritorDébora de Mello

Cuba, a necessidade de discriminar a bela ideia comunista da figura dos ditadores

Atualizado: 27 de ago. de 2020


Em minha recente experiência em Cuba, percebi que não há como atravessar aquela ilha rodeada por verdes mares e recheada de lutas sem ser atravessada por ela, de ser empurrada a pensar nas nefastas consequências sofridas por pessoas vítimas, porém não inocentes de um regime de governo Totalitário.

A grandeza histórica, a eufórica salsa e a graça arquitetônica - herança de diferentes épocas - encantam o turista interessado. Em contraste, a estagnação, o atraso de todos os tipos e a miséria por todo lado causam vertigem. Ainda, a sensibilidade cubana fez fama pelo mundo, assim como a hospitalidade de seus habitantes, a educação e a segurança de suas ruas. Os mais velhos dizem-se um povo feliz: sorriso nos lábios, braços ainda fortes (não há opção), olhos melancólicos e feridos. Sente-se a presença das feridas. Os mais novos, já se rebelam, os mais ousados, transgridem. É a vida buscando uma saída.

O estranho familiar, susto tão caro à psicanálise, tão bem ilustrado pela tragédia do Grego Sófocles, Édipo Rei, cuja utilidade às teorias psicanalíticas do século XX - Complexo de Édipo e Complexo de Castração - foi imensa.

A situação de Édipo, que com sua inteligência decifra o enigma da esfinge, mas não reconhece a própria mãe, trata exatamente da delicada e trágica relação do ser humano com nossa precária memória e limitação ao conhecimento de nossa própria natureza, essência, e história. Além da difícil aceitação daquilo que se chama por aí de destino. Não tivesse Édipo se metido a resolver o que o destino lhe impôs, não teria tido o trágico fim que teve. Faltou-lhe intuição.

Chamamos de intuição aquilo que conhecemos sem podermos explicar e demonstrar quais passos nos levaram àquele conhecimento. É um palpite. E aqui seguem os meus palpites sobre minha experiência em Cuba com os cubanos em 2020.

Cuba faz a pirâmide de Maslow rodopiar. Se, por um lado, sofrem acentuadamente com a miséria e a carência de tudo que é material, por outro desfrutam de uma sensação de comodidade invejável, adaptam-se e fazem a vida valer a pena. Pareceu-me que sabem muito bem o seu papel: aguentar firme. Já os mais jovens parecem não aceitar tão bem essa pré designada posição. Chamo de mais jovem aquele que era ainda criança ou nascido na década de 1980, cuja vida inicia já com o bonde do regime de Fidel Castro andando e andando mal. Esses jovens parecem não querer o amparo débil e ilusório oferecido pelo governo Totalitário, querem se arriscar, querem lutar, querem construir sua própria vida usufruindo de sua liberdade. Respeitam os mais velhos com reverência, mas não deixam de dar um jeito próprio em assumirem suas necessidades. Percebe-se a luta interior entre as vivências atuais e as ilusões do passado, parecem silenciosamente se perguntar: como chegamos nessa condição? Que fizemos e fizeram de nossas vidas? Como vivem as outras pessoas em outros países? Os cubanos mais velhos pareceram a mim mansos, acuados, sem saída. Desamparados e mal escorados na figura imaginária de Fidel Castro.

Freud, Sófocles, e ainda Hanna Arendt, observaram aspectos muito interessantes nesses momentos de revolução. Além, das dores do desamparo frente ao desconhecido, nos alertaram sobre o terror frente ao esquecimento daquilo que já nos foi conhecido, o estranho, o estrangeiro em nós mesmos. A literatura do terror cósmico, conceitos sobre a eterna repetição e o destino parecem terem apreendido muito bem a mensagem captada e transmitida por Édipo: o cuidado com nossa precária natureza humana, limitada, violenta, apaixonada e eternamente escondida. Em agonia, Édipo fura os próprios olhos que já não lhe ofereciam a visão necessária. É triste esquecer, e parece ser que, de uma forma ou de outra, seguimos furando nossos próprios olhos logo após uma vivência de desvelamento. Melhor assim, nos parece, do que o enfrentamento de nossas mais blindadas motivações. Parece ser que a necessidade de conhecer tem por finalidade o cuidado. Conhecemos, sobretudo, para que as decisões que tomamos em nosso cotidiano tragam o bem-estar para nós e para aqueles à nossa volta. Alguns não tem essa consideração por seu companheiro humano e geralmente debocham daqueles que dedicam a vida a conhecer.

A filósofa Hanna Arendt deu, à seu tempo, um alerta aos homens de poder, mostrou como os revolucionários desde Tomas Jefferson, nos Estados Unidos, Robespierre na França, Lênin na Russia, Che Guevara e Fidel Castro em Cuba, “perderem de vista” que a questão primordial: “qual é a finalidade de um regime de governo?” precisa de história e conhecimento humano e não apenas de luta e ilusão:


"No entanto, o ponto a ser lembrado é que essa questão, que ainda ronda os livros didáticos, somente faz sentido se a filosofia for levada tão a sério... E nem os Pais Fundadores, nem os teóricos políticos da Inglaterra e da França, dos quais aqueles derivaram sua própria filosofia, estavam dispostos a – ou mesmo eram capazes de - tomar tão seriamente a filosofia como um estilo de vida, a ponto de alcançar as origens de sua linguagem conceitual... eles permaneceram prisioneiros infelizes de uma tradição cujas origens autênticas estavam além de seu escopo de experiência, bem como do domínio de seu entendimento. O resultado foi que, sempre que pensavam em termos genéricos ou teóricos, isto é, não em termos da ação política e da fundação das instituições políticas, seu pensamento permanecia raso, e a profundidade de sua experiência se mantinha inarticulada".

Como Édipo, a profundidade de sua experiência permanecia não articulada. O raso lhe trouxe o desespero e o exílio.

Hoje é sabido que ao se iniciarem as revoluções, lideradas pelos revolucionários, essas designações nem ao menos existiam na política e aqueles que hoje são reconhecidos como tal certamente não sabiam onde tinham se metido. A palavra revolução, tomada por empréstimo da astronomia, descreve uma mudança irresistível num movimento rotatório cíclico, e não o retorno ao zero como a palavra revolta é definida. Revolução foi utilizada na política pela primeira vez em 1789 com a mesma conotação astronômica de irresistibilidade, isto queria dizer, e continua dizendo, que o movimento revolucionário depois de começado estaria “além da capacidade humana de detê-lo”. Um movimento muito mais poderoso que uma revolta.

Cuba conhece bem a diferença entre os dois acontecimentos políticos e os turistas que visitam o atual Museu da Revolução e antigo Palácio Presidencial, ainda em restauração, podem também aprender algo da história e do humano se quiserem e puderem. Durante a recente restauração do edifício notou-se no pátio uma grossa camada de massa e tinta que não pertenciam ao original. Quando os restauradores começaram a retirar a massa extra descobriram nas paredes do pátio buracos aos montes e por todos os lados. Com aquele arrepio que sobe pela espinha, entenderam que eram buracos de balas e pertenciam a um único dia: o massacre da revolta dos adolescentes contra o cruel ditador Fulgêncio Batista. Quarenta jovens foram executados a queima-roupa impiedosamente. Os restauradores fizeram questão de deixarem os buracos lá para nos ajudarem na desafiante tarefa de não esquecer.

O movimento que parecia ser de libertação daquele ditador terrível, Batista, transformou-se logo em revolucionário. Fidel com sua genialidade guerreira observou em 1963: “Uma revolução es una fuerza mas poderosa que la naturaleza”.

Que força é essa? Arendt tenta uma resposta, articula que a força desconhecida até então e que ditaria a agitação da revolução foi a entrada na tal gloriosa e fechada esfera de “felicidade pública” (direito de deliberar publicamente) até então privilégio dos poucos que governavam e detinham o poder, daqueles que na modernidade passaram a ser chamados de “pobres trabalhadores”...

“A multidão dos pobres e oprimidos que estavam escondidos nas trevas e na humilhação por todos os séculos anteriores”... Uma vez que essa necessidade surgiu em público, incorporada aos sofrimentos da imensa maioria da população, descobriu-se que não havia uma força maior no planeta. Logo, nas palavras da Revolução Francesa, os infelizes são a força da terra”.

A infelicidade dos pobres trabalhadores arrombou as portas dos privilegiados governantes para tingir com a tinta amarga da ambiguidade os regimes políticos a partir dali. Desde então, nunca mais houve felicidade pública.

Fidel tinha bons ideais, ele tentou, logo que chegou ao poder. Construiu moradias básicas, escolas e um sistema de saúde para todos. Valorizava a cultura, mas, no entanto, deixou-se cegar pela felicidade pública e novamente a reservou para um seleto grupo. Colocou de fora de tal felicidade todo o povo cubano, cujos direitos básicos foram sendo extraídos justamente por aquele que outrora os libertara.

Parece que ditadores, assim como Édipo, desconsideram seus destinos.

Em relação a arte e literatura, outro palpite que me ocorreu é que sem liberdade, inquietação e felicidade pública, não há arte. A arte precisa denunciar de tudo: o amor, a dor, os inescrupulosos, os tolos. Cuba possui poucos e geniais artistas. Leonardo Padura é um desses poucos artistas, que se arriscam.

Após a morte de Fidel Castro, os cubanos estão pouco a pouco percebendo a que foram submetidos e se meteram. Se o famoso lusco-fusco de Havana dificulta a visão, já minha experiência pisando pelo chão de terra vasto das plantações de tabaco onde o sol não faz sombras pareceu auxiliar a tomada de consciência. Um desvelamento transformativo. Um processo gradativo ao qual em minha sala de análise estou acostumada a testemunhar. E que muitos podem, ao se fortalecerem, seguir adiante, lutar pela vida, deixando a tragédia para literatura.

Um campesino que nos hospedou muito gentilmente em meio a uma bela plantação de tabaco em sua hacienda por vários CUCs (pra quem não sabe, logo explico) é um desses cubanos que estão se apropriando de sua liberdade e direito de cuidar dos próprios assuntos.


Por que não buscar o bem-estar possível na vida privada? Logo que Fidel morreu em 2016, uma nova constituição foi redigida, e ampliou os direitos de cubanos de se relacionarem economicamente com o estrangeiro. Esse campesino durante o tour que oferece gratuitamente aos seus hóspedes, conta, sem se dar conta da importância daquilo que diz, sobre a diferença entre o Cohiba e o charuto que ele mesmo enrola na antiga mesa de madeira de sua varanda, sob o teto de palha. Cohiba foi invenção de Fidel Castro, era o cigarro que ele mesmo fumava, e, de início, só ele mesmo o fumava. O tamanho tradicional chama-se esplêndido, mas existem várias opções de tamanho. O esplêndido é bem grande. Fidel criou a marca e o tamanho, e transformou o Cohiba, esplêndido, num fetiche diplomático e um sucesso de vendas internacional. Porém, entre os charutos cubanos, não há diferença.

“No hay diferencia”, repetia o campesino. E não compreendíamos. Nenhuma diferença, mas como?

Repasso a explicação: Entre outras coisas, o terroir está para o charuto assim como está para o vinho. O oeste de Cuba tem o melhor solo para as folhas de tabaco e o clima também: elas recebem muito sol durante o dia e frio durante a noite. Durante a safra, momento delicado de decisão exclusiva do produtor, aquelas folhas são metodicamente colhidas e penduradas para secagem, em seguida estão prontas para serem enroladas manualmente.

Noventa por cento da plantação do campesino vai para o governo, por uma miséria de dinheiro, e os dez por cento restantes são da propriedade privada do campesino para fazer o que quiser. Pode nos vender, pode consumir, dar de presentes, como queira. As folhas enroladas pelo campesino chamam-se fabricação própria e não tem valor imaginário, apenas real: o produto é bom. Por outro lado, as folhas enroladas pelas empresas do governo, ao serem seladas com atrativos capitalistas, perdem sua ligação com o real, têm valor imaginário, e chamam-se Cohiba, Romeu e Julieta, Monte Cristo, e etc. Todos manufaturados exatamente da mesma maneira e com a mesma matéria prima. E se para essa arte também é preciso ter alma, que o leitor tire suas próprias conclusões. Os charutos cubanos, um mercado bilionário, já não são mais totalmente de Cuba; são parte cubana, parte chinesa e parte espanhola.

O campesino, agora ciente de sua necessidade, tratou de construir duas ou três cabanas na fazenda cedida pelo governo e oferecê-las como hospedagem no site americano Airbnb. Além do mais, têm sorte e não passam fome. Plantam de tudo: fabricam não só os charutos que fumam, mas torram o café dos pés plantados no quintal, matam o porco para o almoço e comem os ovos das próprias galinhas no café-da-manhã. O frango é do Brasil, me disseram, e, para variar em Cuba, precisam esperar porque demoram a chegar. E quando chegam, fila, claro.

Fidel proibiu que cada pessoa pudesse cuidar dos seus assuntos e ser deixada em paz, um dos direitos básicos mais importantes. Os cubanos começam a se questionar e subverter as regras rígidas do governo para poderem ter suas necessidades básicas supridas. É a força da terra, a vida infeliz, incomodada e buscando saídas. Parece despertar aquilo que ficou adormecido e anestesiado por tanto tempo: a necessidade de discriminar a bela ideia comunista da figura do ditador Fidel Castro.

Foi após a queda da União Soviética que Cuba teve a grande chance de aprender as terríveis consequências de se escorar na ilusão de amparo que o forte oferece. Quando o forte caiu, tombou também a ilusão que lhes provia conforto pela crença de segurança, proteção, vitória. Os cubanos iniciaram desde a década de 90 um longo processo de depauperamento, que já se estende por trinta anos, esse período ganhou um nome logo que nasceu: Período Especial em Tempos de Paz, me disse um querido cubando envergonhado e com nó na garganta porque o tal especial fora assim chamado porque deveria ter durado pouco. O especial tornou-se o dia a dia do pobre cubano.

Foram nos anos 2000 que Fidel se rendeu ao turismo como se espremesse as últimas gotas de riqueza de um passado glorioso. Abre cada vez mais as portas da nação para os curiosos e aventureiros. Mais ainda, na última década, convidam também os luxuosos e perdulários que outrora foram expulsos, como aqueles de Vedado, a frequentarem essa pequena relíquia: Havanna.

Em Cuba, o que é de Cesar vai para os turistas. Por exemplo, você pode se hospedar num fancy airbnb bem dentro de um dos numerosos e habitados cortiços em Havana Velha. Restaurantes e bares oferecem comida de alta qualidade edrinks sofisticados. Ao lado de uma descolada coffeshop há uma padaria cubana com as gôndolas vazias e um único tipo de pão, racionados como todos os outros alimentos. Assim como a água que chega às 17h na maioria dos dias, ou a energia elétrica que intercala com frequentes apagões. A riqueza convive com a pobreza e a extrema pobreza. A situação é tão absurda que o governo instituiu duas moedas: a dos ricos estrangeiros, CUC (vale por volta de um euro) e a dos pobres locais, CUP (valendo trinta vezes menos).

Perguntei a um cubano: De onde vêm as toalhas Ikea dos airbnbs? Respondeu-me: do contrabando. Chegam a um preço muito alto. Os cubanos que já combateram pelo governo no estrangeiro, por exemplo, os médicos cubanos e os militares gozam de um privilégio: são considerados confiáveis e recebem passaporte. E, portanto, podem sair e voltar ao país, com mercadorias e revendê-las aos familiares, amigos e vizinhos. Algumas profissões também facilitam esse trânsito. Um taxista, que distribuiu sua pequena frota de carros entre seus familiares porque a lei prescreve um carro por pessoa adulta, precisava de uma peça para consertar o câmbio de seu Chevrolet anos 50. Comprou a peça de um fornecedor no Panamá, a peça viajou primeiro para o Canadá e então entrou em Cuba. “Acredite se quiser” me disse ele. Outro reclamava que a mulher lhe havia pedido molho de tomate e isso lhe tomaria talvez umas duas ou três horas naquela tarde, caso não encontrasse na primeira tentativa. “É preciso vasculhar Havana se quiser encontrar alguma coisa”, concluiu.

Um dos empreendedores cubanos com o qual conversei nos contou que sua esposa era médica coordenadora em um hospital para crianças, ganhava o equivalente a US$ 60,00 por mês. Disse-me: “Ela trabalha por paixão, mas só consegue viver por minha causa. Se não fosse o meu trabalho, essas coisas que eu faço, ela não poderia trabalhar assim. Eu tive que desistir da minha profissão para cuidar da família”. Continuou: “Aqui só se consegue mercadorias pelo black market, e tudo com ágio”.

O caso dos médicos cubanos é dúbio e pode causar confusão. Se, por um lado, são generosos e altruístas em oferecer ao risco suas próprias vidas, apoiando a países estrangeiros; por outro, o fazem pelos benefícios que terão na volta e, também, porque o governo troca médicos por alguma amizade e negociação com o estrangeiro que o embarga. Por trás da aparente generosidade há um mecanismo perverso e negado pela maioria. O médico é, ao mesmo tempo, valorizado e desvalorizado. Ainda outro cubano me disse: “Nosso sistema de saúde é bom porque temos médicos. Quando você vai ao hospital o que você realmente espera é falar com um médico, isso você encontra aqui! Mas, se precisa continuar o tratamento em casa, você está por sua própria sorte, e aí...” De fato, as farmácias têm as maiores filas. A maioria: idosos. E me pergunto se, no caso dos médicos enviados nas missões fora de Cuba, a lógica de oferecer ao estrangeiro o melhor e restringir e racionar para os locais também se aplicaria.

Os cubanos que vivem bem fazem seus trambiques. Isto é, de alguma forma ficam fora da lei, pois já não se alienam à totalidade da imposição de um regime governamental que quiçá escolheram conscientes e por iniciativa própria; uma vez que estão interditados da felicidade pública. Para o povo “falta água”. “Falta sabão”, “papel higiênico”, “faltam remédios” e “molho de tomate”.

Além disso, as condições de moradia da maioria são ultrajantes. Como viver com US$ 45,00- US$ 60,00 ao mês enquanto o pacote de 2 kg de café custa US$ 12,00?

Ao questionar o porquê se encontravam naquela condição, a resposta foi unânime: por causa do embargo. Culpam às negociações com o estrangeiro, sobretudo com os Estados Unidos da América, pela atual situação de Cuba. Em momento algum conseguem se responsabilizar pela parte que lhes cabe em tais negociações. A resposta delata a alienação e a incapacidade de pensar criticamente da grande maioria de um povo que se acostumou a privação e ao racionamento. Enquanto acreditarem que a potência está no estrangeiro, e sobretudo nos EUA, certamente não a experimentarão em Cuba.

De um só golpe, percebi que o amor à ideia comunista foi sim a substância que uniu esse povo em prol da revolução liderada por Che e Castro nos anos 60 e que este amor sem obras está morto. Lamentavelmente, ainda estamos bem longe de compartilharmos com a maioria do globo terrestre o amor à ideia utópica comunista. Portanto, não se trata da realidade atual e não se pode fugir ao destino.

Sabemos que a ilusão pura sem suas necessárias e constantes negociações com a realidade pode ser devastadora. Enquanto antagonistas imaginários como “os bons e os maus”, “nós e eles”, persistirem separando arbitrariamente o que é de fato um conjunto e, continuarem a ser projetados em pessoas, nações, regimes de governos e etc., teremos à disposição excesso de violência contra nosso companheiro humano.

A personificação de um regime de governo, como no caso da Cuba de Fidel Castro é como uma psicose. Em termos psicanalíticos, uma alucinação da existência do falo. Em termos edípicos, uma alucinação que se pode controlar o futuro, ou o destino sem o devido apego à precária realidade. Fidel e os cubanos alucinaram um ser especial, que teria conseguido expurgar a parcela de mal, de egoísmo, de agressividade, ou seja, de necessidade, que lhe cabia como membro dessa espécie esfomeada e violenta: os humanos. Uma psicose que se alastrou do líder ao povo. Uma loucura coletiva melancólica e paralisante, onde não se pensa em viver a vida, se engajar, porém, antes, aguentar que a vida passe.

Em contraste, emocionaram-me os jovens cubanos com os quais conversei, sonhos esperançosos já prevaleciam sobre a submissão cega; destronando o total e imaginário líder passam a fazer o que dá nesse mundo capitalista e desgastado. Enquanto se passa de pai para filho que se pode sonhar com uma utopia, contanto que se acorde em seguida. Cuba tem sonhado, sonhos para agora e para o amanhã. Boa sorte cubanos!

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